Excelentíssima Senhora Presidente da Câmara Municipal de Paraisópolis, Conceição Aparecida Pereira;
Nobres vereadores, com os quais saúdo todas as autoridades aqui presentes;
Meus caríssimos conterrâneos mais novos;
Meus queridos familiares e amigos, que vieram prestigiar este evento que muito me honra;
Querida e sempre amada Paraisópolis.
Estou voltando, depois de trinta e dois anos morando em São José dos Campos, para não precisarem fazer contas, fui para a capital do vale do Paraíba com 23 anos e estou voltando com 55. Nestas três décadas que se passaram rapidamente, não teve um dia em que tivesse tirado de minha cabeça e de meu coração a idéia de voltar para a minha terra natal. Mas foi lá que constitui minha família, escrevi meus livros, labutei profissionalmente, por isso sou muito grato a São José dos Campos.
Como prova de gratidão aquela cidade, de agora em diante foi parodiar o Poeta do Brasil, Cassiano Ricardo, no dia em que ele recebeu uma homenagem como esta em sua terra natal:
"Organizou-se esta tocante homenagem a meu favor e, como filho de Paraisópolis, compreendo bem a grandeza de seu significado.
Sinto-me enternecido, como é natural, diante de tão alta manifestação de bem-querer, da cidade onde nasci e onde espero repousar um dia.
Ninguém desconhece, aliás, o amor de cada poeta pelo lugar onde nasceu. “Todos cantam a sua terra”, disse um deles: “Vou também cantar a minha”
E como não haveria eu de amar, acima de todas as coisas, esta Paraisópolis que me serviu de berço e é o meu orgulho?
Se aqui nasci poeta é porque Paraíso me fez nascer poeta. Direi então: Sou poeta, porque nasci no Paraíso.
Não é preciso ir longe.
O amor de Drummond, poeta nosso, por sua Itabira, é bem conhecido, O de Manuel Bandeira por sua Recife já é quase proverbial.
Tem razão Menotti, poeta como os demais, quando em seu “Juca Mulato” escreve: “Na terra em que se nasce a própria dor dói menos”.
No sentido inverso afirmarei que também alegria é maior na terra em que se nasce. Maior ainda quando vinculada, pelo afeto a um acontecimento como este.
Compreende-se. Não se trata de um localismo estreito e fechado, mas de um apego ao feitiço municipal, de que a gente não se desprende mais, mesmo quando está longe, em outros países.
O torrão natal do poeta está na origem do seu ser, como criatura terrena e afetiva que ele é, e vive no seu corpo que é feito de chão e espírito".
É com este espírito que agradeço a digna vereadora e Presidente desta Casa Conceição Aparecida Pereira pela distinção com que me honra nesta noite, sem dúvida uma das mais importantes de minha vida.
Caros amigos, nunca se desfez em minha memória a Paraíso do meu tempo, com os amigos de meninice, um João Braga, um Jayme de Barros, meus queridos vizinhos da Rua Silviano Brandão, os armazéns do Sebastião e do Cid de Barros; a casa do Leonides, como a gente chamava o senhor Leônidas, a casa do Antonio Palma, A casa do Tatião e da Nêga do Pipi, a sempre organizada Coletoria com a autoridade do Geraldo da Vovó; A casa do João Cabral, bem em frente à atual inovação; a casa da D. Geralda do seu Nem, com a sua fantástica máquina de cobrir botões, aquilo era uma maravilha. A casa da Carlotinha e do Toninho Faria sempre amigos; Um pouquinho mais para baixo a casa do senhor Zezito Cortes, onde íamos comprar bananas amadurecidas dentro de um baú, como esquecer aquele alçapão, atrás do sofá que dava acesso ao porão?; como esquecer a oficina do Antonio Morais onde criança ficava conversando com ele enquanto consertava rádios?
É impossível não lembrar os aniversários de meu Pai o Zé do Jayme que em uma época ele comemorava no dia do aniversário do Pelé, depois descobriu que era no dia seguinte. Lá estavam o Messias Marra, Joaquim Cardoso, Zé Lima, Tião do Vô, Minhocão, Arézio, Zé do Hotel e muitos outros, ou a Loja como a gente chamava a Casa de Móveis, com Sebastião Bizarria, Toti, Jefinho, Hélio Manco, Serpa, Zé Custódio, Dito Preto, Sebastião da Pulinária...
Como esquecer a turma do Teatro Geraldo Muniz, João Formiguinha, João Cabral, Nico da Paulina, Leonina Rosa, Zé Neto, Quinho, Adhemar, Galba, Roberto?
Como esquecer o centenário “Bueno de Paiva” com minhas queridas professoras, diretoras e colegas, na época do porão, hoje utilizado com muito mais dignidade.
Como não recordar o orgulho de meu pai em pertencer ao Lions Clube, com seus companheiros Amâncio, Dr. Celso, Quirino.
Como não lembrar do Conjunto Serenata, dos Quitates, Dr. Benedito, e o som da flauta do Tarquínio e dos outros conjuntos musicais de minha época de juventude? O trombone do Kiko?
O pessoal do Campo de futebol Zé Luz, Chapadinha, Dito da Lojinha, Tomé, Zé Gordo. A banda do seu Nem de Barros. Vi nascer a AMP, o Kayrê, o Recreativo, O Clube de Campo. E os carnavais! As fotos do Milton expostas logo depois dos bailes! Dos festivais! O Cine Vitória, onde conheci pessoalmente o Mazzaropi e não perdia uma Matinée.
Como esquecer da Madre Regina com a criação da JUP- Juventude Unida de Paraisópolis, como esquecer das homilias do cônego Profício nas noites frias da Semana Santa; como esquecer do padre Omar com seus ensinamentos profundos sobre Jesus Cristo; como esquecer do casamento celebrado pelo, na época, padre João Faria. E as tias e os tios, as visitas da Vó Rosa diariamente nas casas dos filhos e filhas. As rezas, os terços!?
Como esquecer o “Brasil de Amanhã”, todos os domingos depois da missa das crianças, no auditório da Rádio. E as primeiras namoradas e os bailes de juventude. E o pão na janela da padaria depois de tudo, nas madrugadas sem violência, nem drogas. Apenas violões, um pouco de vinho com pão sovado e muita amizade. Como esquecer a maionese do natal com os amigos!
Impressionante, ainda vejo as cores e sinto os cheiros de minha infância vivida em Paraisópolis. A Páscoa dos Moços, a conferência de São Luiz Gonzaga, o protetor dos jovens, na confraria de São Vicente de Paula e as quermesses do asilo com seus leilões de assados e cartuchos feitos em casa. E onde ela ia toda noite de batom e botas!
Deixei para traz uma Paraisópolis muito saudável, aconchegante, alegre, cultural, desportiva, animada, festiva, e cheirosa como minhas parceiras de bailes.
Nestes trinta anos fiquei olhando Paraisópolis pela fresta da janela, nunca a perdi de vista, mas não estava aqui. Ouvi muita barbaridade, muita coisa triste como a invasão das drogas, a falta de perspectiva para os nossos jovens, o despreparo dos serviços públicos. Vi muita oposição e pouca atuação. Vi o conformismo de muitos e a acomodação de outros. Vi o conservadorismo falar alto buscando seus próprios interesses.
Mas hoje é dia de festa. E não posso esquecer-me do pensamento fundante de um dos nossos maiores escritores: “Feliz aquele que escreve livros e manda o povo pensar”. É esta a minha missão: ser feliz e provocar no povo o ato de pensar. Pode parecer pretensão de minha parte, mas não quero uma Paraisópolis do passado, quero uma Paraisópolis já no presente, preparando-se para um futuro próximo, muito melhor.
É assim que sei amar, reconhecendo as qualidades, as coisas boas, mas não deixando de falar sobre aquilo que precisa ser melhorado.
Muito obrigado por esta honra, em forma de reconhecimento, mas não estou parando, ao contrário, retorno aos meus vinte e três anos e vou fazer em minha terra natal, o que fiz em São José dos Campos. Sinceramente, muito obrigado, fica registrada aqui a minha gratidão para sempre.
Peço permissão a todos os presentes para fazer um agradecimento muito especial ao vereador Antonio Félix Teixeira Filho e a todos os edis desta casa, que por ocasião do falecimento recente de minha mãe Neuza Regina Braga Barros, aprovaram uma Moção de Pesar que em nome de todos os meus irmãos comovidamente agradeço.
Boa noite a todos!
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